No estado de Wisconsin, no noroeste dos Estados Unidos, o amor pelo queijo vai muito além dos gostos gastronômicos. A região é a principal produtora de laticínios do país, o que fez com que os seus moradores ganhassem o apelido de “Cheeseheads” (cabeças de queijo).
O apelido surgiu de maneira pejorativa dentro do esporte, por times rivais de outros estados. No entanto, os moradores do Wisconsin abraçaram a alcunha de “cheeseheads” com orgulho. Hoje, em jogos de baseball ou futebol americano, o adereço em forma de chapéu de fatia de queijo virou parte do uniforme para os torcedores nas arquibancadas.
Mas por trás desse símbolo curioso, há uma história que revela como a globalização impactou a economia americana e desafiou as tradições que moldaram o estado.
Uma delas é “caminho do queijo”, que envolveu durante anos famílias do estado de Wisconsin. No passado, o leite das vacas era vendido na própria comunidade.
Com o passar dos anos e o aumento da produção na região, as vacas passaram a crescer em espaços confinados. No lugar de grama, agora elas comem apenas ração para aumentar ainda mais a quantidade delas.
Aos poucos, a produção leiteira mudou, as vacas não vagavam mais a busca de grama nova e não era mais necessário baixar a cerca para que elas pudessem vagar livremente pela fazenda.
Com isso, o mercado mudou. O das vacas criadas em área aberta, livres, também. A estimativa é de que apenas 5% das fazendas da região de Wisconsin seguem o antigo modelo de produção.
Junto da mudança na produção, os fazendeiros passaram a encarar a necessidade de investimentos cada vez maiores para competir com a produção de leite e queijo em grande escala.
“Hoje nós temos que ser eficientes. Para produzir mais, precisamos de mais investimentos. Então a sua fábrica tem que ser grande o bastante para bancar esse investimento”, comenta o fazendeiro Joe Tomandl.
O catalisador dessa mudança não foi somente o crescimento populacional dos Estados Unidos, nos últimos 30 anos. Entre 1993 e 2023 o país cresceu 30,3%, quando passou de cerca de 257 milhões, para 335 milhões de habitantes.
A globalização pesou mais, principalmente a partir dos anos de 1980, quando a China entrou no mercado internacional. Os americanos acreditavam que o país asiático baratearia produtos, por exemplo.
“Em curto período de tempo, centenas de milhões de trabalhadores asiáticos entraram no mercado global de trabalho. Eles são extremamente disciplinados, extremamente eficientes e estão dispostos a trabalhar por uma fração do que ganham os seus competidores no resto do mundo. Isso levou a toda uma reorientação de lógica de investimento em escala planetária”, comentou o economista e filósofo Eduardo Gianetti.
Essa eficiência atingiu também o público que era bem atendido pelo avô do Daniel, com seu cortador de grama. Para continuar competitivo, o mercado de cortadores passou a exigir fábricas eficientes, com parte da produção robotizada e automatizada.