Com elenco balanceado e mentalmente forte, seleção masculina coleciona feitos notáveis nos últimos dois anos; ajustes podem facilitar caminho para Mundial de 2027 e Los Angeles 2028
A conquista do título da Copa América masculina após 16 anos reafirma o grande momento que vive o basquete brasileiro. Para além do bom sétimo lugar nos Jogos Olímpicos de Paris, é preciso lembrar que 2025 conserva as boas vibrações de 2024 e já é marcado por conquistas significativas. O basquete nacional pisou em quadra na Nicarágua tendo conseguido esse ano um título de Jogos Mundiais Universitários, conquista que não vinha há 60 anos; um bicampeonato do Global Jam, torneio Sub-23; e o título da Solidarity Cup, competição amistosa disputada na China. Erguer em Manágua pela quinta vez na história a taça das Américas é, portanto, o ápice de um ano irretocável. O ponto de exclamação para um momento de muito otimismo.
Em relação ao que se viu em quadra, sem peças importantes para o ciclo como Léo Meindl, Gui Santos, Raulzinho, Márcio Santos e Didi, que por motivos distintos não puderam disputar a Copa América, o Brasil foi campeão pelo equilíbrio mostrado. Ofensivamente a seleção se serve de um pick and roll sólido com Yago (MVP da competição) e Bruno Caboclo, tem opções no pick and pop (bloqueio do grande abrindo para o arremesso), cultiva momentos de boa movimentação de bola, corre a bem a quadra quando defende bem.
Defender bem é algo que a seleção de Petrovic sabe fazer, mas igualar o nível de intensidade física e agressividade dos adversários no início das partidas foi uma questão. Magistralmente endereçada no momento mais importante da competição. O mérito de ter começado forte na defesa e limitado uma escola tradicional como a argentina a 47 pontos na grande final precisa ser reconhecido. Defendendo bem e com consistência, o Brasil pôde pontuar nos contra-ataques. Um fator que taticamente abriu caminho para o título.
Tendo como base o último Pré-Olímpico, os Jogos de Paris e essa Copa América, é possível apontar alguns fatores a serem ajustados visando a vaga na Copa do Mundo de 2027 e consequentemente todo o ciclo de Los Angeles 2028. O Brasil tem valências defensivas, disciplina coletiva, mas a sustentação do 1×1 pode melhorar, assim como a defesa de pick and roll visando uma melhor proteção da área pintada, dificultando passes do adversário lá dentro. Por fim, é preciso trabalhar o bloqueio de rebotes, evitando ceder tantos rebotes ofensivos, fator gritante na Nicarágua.
No lado ofensivo, ter mais opções de peças que possam romper o 1×1 fora das situações de desequilíbrio defensivo para pontuar ou gerar mais vantagens seria o cenário ideal, mas esse é um aspecto que independe de ajuste, é talento individual. Talvez por isso o Brasil não tenha um pontuador letal. Não tendo essa figura, os processos coletivos precisam ser aperfeiçoados. Agora, a seleção masculina mira o início das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2027. No próximo dia 27 de novembro, encaramos o Chile na estreia, em um grupo C que tem ainda Venezuela e Colômbia. Em jogos distribuídos ao longo de seis janelas, apenas sete de dezesseis seleções das Américas vão garantir vaga para ao Qatar em 2027.
Se olharmos para os últimos dois anos, é inegável que a seleção masculina deu um passo importante no sentido de forjar uma cultura vencedora. Hoje, embora não entre como favorito nas grandes competições FIBA como Copa do Mundo e Olimpíadas, o Brasil é competitivo, capaz de dar trabalho aos grandes em dia inspirado. É um grupo de jogadores que começa a ficar marcado por feitos improváveis. Afinal de contas, como definir a vitória sobre um Canadá cheio de astros da NBA na Copa do Mundo de 2023? No último Pré-Olímpico, como mensurar a grandiosidade da conquista da vaga nos Jogos de Paris amassando a forte Letônia com um primeiro quarto cinematográfico na casa dos letões? Que adjetivos escolher para dimensionar a virada épica sobre os Estados Unidos na semifinal dessa Copa América? Novamente: seleção de feitos improváveis.
O momento da seleção de basquete merece a atenção do brasileiro. Além dos feitos já citados nos últimos dois anos, o NBB (liga nacional onde atuam Lucas Dias, Georginho e Alexey, peças importantes na Nicarágua) só cresce em estrutura e vem para a maior temporada de sua história, com 20 times na disputa. Entre as mulheres, o Brasil é o atual vice-campeão das Américas e tem um conjunto muito promissor de jogadoras: Kamilla Cardoso e Damiris Dantas são pilares, Bella Nascimento, Ayla McDowell, entre tantas outras jovens pedem passagem. Que se inicie um ciclo virtuoso. Que o momento de bons resultados alimente e fortaleça o basquete brasileiro.